Durante muito tempo, Robert Filmer foi apontado como o vilão do pensamento político do início da modernidade, autor de uma teoria absurda e retrógrada destinada ao esquecimento. Esse longo descrédito, porém, não condiz com o fato de Patriarca, sua obra mais conhecida, ter recebido a atenção de importantes políticos e intelectuais de seu tempo, como James Tyrrell, Algernon Sydney ou o próprio John Locke, que dedicou um tratado íntegro, seu First Treatise, para refutar, um por um, seus argumentos. Por algumas décadas, Patriarca voltou a despertar interesse, agora por seu valor histórico como peça fundamental tanto para reconstruir os debates políticos e filosóficos candentes na Inglaterra do século XVII (Filmer discute com Hugo Grotius, com Thomas Hobbes e outros), como para realizar o necessário exercício de devolver os fundamentos teóricos da dominação patriarcal aos seus diferentes contextos de produção.
Escrito por um primogênito, europeu, de família nobre, Patriarca é um testemunho de como o conceito de “patriarcado” se refere a um sistema de dominação teorizado, deliberadamente e desde tempos imemoriais, por seus ideólogos e beneficiários diretos, aqueles que historicamente estiveram em condições de atuar como reis, tiranos ou conquistadores, como juízes, como chefes de família, como proprietários e herdeiros legítimos, como senhores, como súditos ou cidadãos com plenos direitos.