Ler um livro é ter uma conversa com o texto, com quem o escreve, com a época em que foi produzido. Ler um “clássico” como O Direito à Cidade é uma atividade ainda mais útil e proveitosa. Animemo-nos com a possibilidade de ler um clássico de forma coletiva e interdisciplinar, sem nos rendermos acriticamente à sua fama. Duas características distinguem este volume. A primeira é a nossa ênfase em alguns aspectos da obra de Lefebvre que nem sempre são apreciados: por um lado, o contexto intelectual em que o livro foi produzido e, de outro, o caráter eminentemente marxista de sua argumentação. A segunda é que Uso e Valor de Henri Lefebvre também pode ser considerado um livro de história: história intelectual e história dos conceitos. História da recepção de um livro e de uma palavra de ordem revolucionária cooptada pelo liberalismo. História de alguns trabalhadores agrícolas, de alguns arquitetos radicais, de uma inundação provocada em nome do progresso. História, em suma, da modernidade, da razão instrumental e do regime visual que separa e organiza espaços e corpos. Da mesma forma, este trabalho também pode ser lido como um estudo social e etnográfico da cidade capitalista e como uma série de incursões analíticas sobre questões específicas da vida em Tijuana, Xalapa e Cidade do México.